Reflexões ilações ou o caos sob a inteligência artificial
jul 1
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Em um dos diversos testes que tenho feito com o ChatGPT, solicitei à IA que produzisse um artigo sobre a clássica frase de Marshall McLuhan, “o meio é a mensagem.” O retorno a esse pedido foi um texto estruturado com algumas citações esperadas e outras, nem tanto. Isso nos dá a oportunidade de procurar insighs úteis para esse, que ao meu ver, parece ser um momento caótico ou de grandes desafios; especialmente, para quem trabalha com comunicação. Vou citar alguns tópicos do artigo produzido pela IA e propor reflexões que, em princípio, parecem possíveis. A resposta inicia:
A frase "o meio é a mensagem" foi cunhada pelo teórico da comunicação canadense Marshall McLuhan em seu livro de 1964, "Understanding Media: The Extensions of Man". McLuhan argumentava que a forma como a informação é transmitida - ou seja, o meio - é mais importante do que a mensagem em si, porque molda a forma como as pessoas percebem e compreendem a mensagem.
Até aqui já se pode perceber que o algoritmo consegue localizar na base de dados históricos a origem do teórico e a autoria da frase. Se bem que, não sei se o McLuhan, realmente, propugna que o meio é mais importante do que a mensagem. Parece-nos mais razoável que ele estava querendo dizer que o meio é a própria mensagem (...) mas, sigamos com o que produz a máquina:
De acordo com McLuhan, diferentes meios de comunicação - como a televisão, o rádio, a imprensa escrita e a internet - têm diferentes capacidades de transmitir informações e diferentes efeitos sobre a percepção das pessoas. Por exemplo, a televisão é um meio visual e auditivo que pode transmitir informações em tempo real, criando uma sensação de imediatismo e presença. A internet, por outro lado, é um meio de comunicação altamente interativo e personalizado, que permite aos usuários escolherem e controlarem o que consomem.
Neste parágrafo do texto, já aparece algo que chama muita atenção quando a IA faz destaques para os meios de comunicação e todo o potencial de transmissão de informações e cita a televisão, o rádio, a imprensa escrita e, estranhamente, a internet, como se já existisse na época em que o autor escreveu o clássico livro citado. Tudo bem que o eminente teórico da comunicação também previu o surgimento da internet com a já conhecida afirmação de “aldeia global”, mas, isso não resolve o equívoco sobre a citação categórica da internet como já existente naquele tempo histórico tal qual em nossos dias.
Isso parece pouco, mas, para quem é pesquisador ou trabalha na área, parece assustador, visto que uma geração inteira que, provavelmente, não terá contato com as obras originais ou não terá hábitos de observar com mais rigor as construções textuais das IAs, podem contribuir para consolidação do fake como realidade e todo o desdobramento que versões falsas podem produzir.
Obviamente que esse recorte é apenas ilustrativo e que depois de muito treinar o algoritmo isso, provavelmente, será resolvido e os próximos textos já virão mais assertivos. Talvez. Mas, e se a ideia for distorcer a realidade?
O problema continua, evidentemente, na forma com que se irá fazer uso dessas ferramentas e não no surgimento dessas novas tecnologias.
Enquanto produzia essas reflexões uma matéria me chamou a atenção num portal de notícias: viralizou nas redes sociais uma suposta canção de Drake e The Weeknd sobre Selena Gomez. Heart On My Sleeve foi compartilhada( ...) A canção, que fala sobre a cantora e ex-namorada de The Weeknd, foi desenvolvida por um software treinado com as vozes dos dois artistas...(como resolver, neste caso, questões de uso indevido de imagem?)
Com milhões de visualizações, o material já foi retirado de um dos canais conhecidos do mercado...mas, continua em outros. O autor se apresenta com o perfil de Ghostwriter. E agora, como os atingidos poderão se defender? A música por enquanto vai causar prejuízos materiais. Entretanto, é bom lembrar que podem aparecer outros usos das imitações ainda mais perniciosos. Como tipificar os possíveis crimes?
Parece óbvio que não estamos preparados para essa nova era. Mesmo com o surgimento de casos que parecem bem intencionados:
Recentemente, o Fotógrafo Alemão Boris Eldgadsen foi premiado no Sony Photo Awards 2023 e devolveu o prêmio relatando que criou o material com uso de inteligência artificial. Isso parece alentador, visto que o profissional devolveu o prêmio aos realizadores; apesar de, esses, tentarem convencê-lo a ficar (sic)com o prêmio, sabe-se lá por qual razão.
É bastante claro, por todas as razões já mencionadas, que em todas as áreas do conhecimento humano, surgirão problemas para serem resolvidos e outros que, provavelmente, se tornarão insolúveis. Penso que o que será crucial contra as iniciativas preventivas e de regulação será a velocidade dos saltos tecnológicos com que esses algoritmos são desenvolvidos.
Seja nos exemplos iniciais citados com o exercício do uso do GPT, no caso da IA de criação musical, do fotógrafo alemão que relatou o uso de manipulação da imagem ou em muitos outros que surgirão, com certeza, ocorrerão desdobramentos que poderão ser intransponíveis para esse momento histórico de nossa convivência em sociedade e irá mudar significativamente as formas de relacionamento entre os humanos.
O que nos resta é aprofundar, em diversas frentes, os debates para que possam emergir usos benéficos desses novos mecanismos de produção e criação e, quem sabe, vislumbrar algumas formas possíveis de regulação.
O campo está aberto. Se será o caos ou só ilações, apenas o tempo revelará...