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Reflexões e percepções sobre inteligência artificial

out 23

3 min de leitura

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A evolução da inteligência artificial conhecida como generativa, surge no cenário contemporâneo como uma ferramenta que, certamente, impactou e irá alterar cada vez mais a vida em sociedade.

Uma coisa é certa, não se pode parar o desenvolvimento tecnológico, principalmente, devido à sua correlação indissociável com a estrutura funcional do sistema capitalista. Nesse momento, a tecnologia digital, suporta todas, ou a grande maioria das transações no chamado mercado. O que já se vê, é a consolidação da desreferencialização em curso nas operações em novos valores de troca entre os atores sociais. Nessa perspectiva, ocorre o surgimento de uma nova economia suportada no dinheiro gerando dinheiro e não mais mercadorias como na forma anterior de produção de bens e trocas entre os agentes econômicos. Conforme já destacou o filósofo, Franco Berardi, vivemos a “hegemonia da conexão sobre a conjunção”. Se as máquinas determinam o que consumimos, o que usamos e, até, como nos comportamos pela via algorítmica, nos tornamos seres manipuláveis por linguagem maquínica e vamos perdendo nossa essência que poderia ser representada no papel da conjunção. Nesse contexto, se estamos conectados, nos tornamos passíveis de padronização e alinhamentos por similaridades e, isso, faz surgir uma fonte de receita inesgotável para quem domina os novos meios de produção tecnológica que, agora, podem monetizar palavras e até inflacionar os significados. É oportuno destacar, que o suporte e o fornecimento de acesso e controle dessas novas formas de comunicação e relacionamento entre indivíduos e grupos, estão nas mãos de grandes e poucas empresas transnacionais. Muito provavelmente, esse será o maior desafio para os chamados estados nacionais; estes, verão seu poder de controle abalado pelo domínio dessas grandes corporações e, a IA generativa, não está fora dessa realidade inexorável. Por se tratar de produção de alta tecnologia, os grandes players já estabelecidos são os que conseguiram dar vida a essas novas ferramentas.

O cenário parece assustador, principalmente, com a divulgação de uma carta apoiada pelos pioneiros da criação do GPT, Yoshua Bengio, Geffrey Hinton e também Stuart Russel. Nesse documento, esses personagens alertam para o grande risco que a humanidade corre com a falta de discussões e regulações dessas ferramentas tecnológicas que estão ganhando vida própria.

Agora, o que é patente, é que não se terá controle sobre o impacto dessas ciber formas interativas nas sociedades contemporâneas, principalmente, no que diz respeito à comunicação, disseminação de conteúdo e impacto sócio - econômico e político entre tantas outras esferas públicas que serão impactadas.

Nesse momento, algumas percepções que parecem oportunas transparecem e as reflexões podem ser instigadoras: Será que vamos nos desumanizar ao longo do processo histórico pelo uso dessas novas ferramentas?

Pode-se ainda acrescentar outras matizes: se a máquina já pode produzir mensagens por nós, o que ocorrerá com as filigranas implícitas nos mais recônditos espaços de vivência imaginativa durante nossas memórias de vida fruto de nossas relações interpessoais e afetivas.

Para ilustrar, exemplifiquemos com uma situação em que alguém queira produzir uma mensagem para a sua mãe por ocasião de seu aniversário e solicita à IA do GPT para criar um texto em tom emocional para o cartão que acompanhará o presente. O que parece simples, pode se revelar de grande complexidade. A pessoa não pensou no texto, não refletiu sobre o que poderia emocioná-la, ou nas histórias que viveram juntos e tantas outras memórias afetivas que poderiam compor o texto. Simplesmente, pede à máquina que faça essa tarefa de criação. Quando o texto retorna, apressadamente é lida a mensagem e inserida no cartão. A questão ilustrativa aqui proposta, pode suscitar uma série de questões ético-afetivas que perpassam esse contexto.  Mas, algumas, especialmente, vem à mente. Se não refleti, se a mensagem não foi gerada na memória e nas relações afetivas de filho para a mãe mas, sim, em uma simples solicitação para que a máquina construa a mensagem; o que acontece com nossas memórias afetivas? terão o mesmo peso emocional, serão ungidas com o mesmo significado? será sincero e representativo do sentimento filial em profundidade ?

Por certo, todas essas questões que fizemos ao longo do texto, pelo nível de complexidade, não terão respostas; pelo menos, no curto prazo.

Entretanto, ponderações surgirão: mas, ao receber o retorno da máquina com o texto, o solicitante pode ler, refletir e acrescentar o que for preciso. Será?



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