
A imagem percebida e a formação intermediada da opinião pública
14 de ago de 2024
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Para efeito de resgate em conteúdos interessantes no campo da comunicação, em nossas incursões analíticas, resgatamos uma publicação que realizamos há alguns anos e, infelizmente, apesar dos avanços e do surgimento de novas formas de comunicação advindas das mídias digitais, em termos de impacto no contexto social, essa abordagem, nos parece ainda mais oportuna.
(artigo originalmente publicado em julho do ano de 2005)
Vivemos, claramente, um período de grande turbulência política no país, provocada pelo volume de notícias negativas sobre o comportamento de figuras políticas. Já é possível dizer que o momento é inédito do ponto de vista de posturas de alguns políticos em cruzadas “kamikazes” propiciadas por aparições bombásticas propagadas pelo grande espetáculo da notícia. Sem fazer juízo de valor eivado de pré-conceitos sobre os episódios que já chamei, em outra oportunidade, de “big brother político”, procurarei, a partir do óbvio, produzir outro nível de raciocínio para quem milita no segmento comunicacional ou simplesmente para quem não quer apenas reproduzir falares midiáticos.
Na perspectiva de um profissional de comunicação, parece-me possível propor uma reflexão perfeitamente adequada a esse momento ímpar de nossa história. A ocasião permite discutir esse tema sobre a consolidação ou não da imagem pública de pessoas físicas e jurídicas, aproveitando a oportunidade pedagógica dessas crises. A partir do olhar de quem trabalha na formatação de conteúdos e ajuda constantemente as empresas a consolidar a sua imagem no mercado, torna-se possível, com base nessa experiência prática, compreender, em certa medida, o grande desafio que é transpor a barreira provocada pelo que se emite de comunicação e o que de fato as pessoas percebem em relação às mensagens propagadas, sejam elas jornalísticas ou publicitárias.
No entanto, é oportuno lembrar que a repetição temática em grande volume fatalmente causa o que se pode chamar de fixação residual da mensagem. Vivemos atualmente o triunfo da construção da opinião pública em tempo real pelos veículos de massa.
A celeridade da informação faz com que, em geral, não se tenha muito tempo para a necessária análise crítica dos episódios. Nunca antes as teorias de Lazarsfeld e seu clássico estudo sobre a influência dos veículos de comunicação foram tão úteis. Os assuntos veiculados nos “mass media” principalmente a TV, mas também o rádio e, agora, a internet, proporcionaram uma reação em cadeia nos diferentes grupos da população. Muito claramente, a percepção desses grupos depende em grande medida do nível de abstração a que eles possam chegar, baseados na sua experiência de vida e, evidentemente, na de sua formação escolar.
Mario Sérgio Cortela, eminente professor e filósofo contemporâneo, afirma que “é necessário diferenciar informação de conhecimento”. Afirmação com a qual concordo, pois não há como chegar a conclusões sobre qualquer que seja o tema se a informação não for convertida em conhecimento. Se não se conseguir aplicar o conteúdo informacional, trata-se apenas de uma memória episódica dos fatos. Principalmente, se levarmos em conta a velocidade e a fragmentação com que os acontecimentos são propagados atualmente.
A área de comunica ção passa por um grande teste de fogo. Além de estarmos construindo os métodos adequados de análise cientifica, possuímos poucos quadros de pessoal de pesquisa necessários para dar conta do grande número de fenômenos que precisam ser analisados neste emaranhado universo “pseudo-interativo” provocado pela mídia eletrônica.
Esses desafios colocam o nosso segmento de atuação em efervescência, especialmente quando tivemos no centro dos noticiários um suposto profissional da publicidade, que ficou conhecido como operador do “mensalão”, até bem pouco tempo um senhor desconhecido e que foi guindado à condição de “estrela” da vez. Por sorte, viemos a saber que ele não tem formação na área e que é apenas um curioso no assunto, pelo menos no que seja realmente a publicidade e a propaganda executada de forma ética. Por mais que estejamos impregnados pelo ter e pelo que se aparenta ser em nossa atônita sociedade de consumo, a capacidade de qualquer que seja o profissional não pode ser medida pela quantidade de dinheiro que ele possa ter acumulado. Mas cada vez mais fica claro que valor, sim, é aquele dimensionado pelos compromissos sociais que essa pessoa ou organização assuma no meio em que ela atua. Mesmo sendo a comunicação uma ciência em construção e ainda muito jovem se comparada às clássicas áreas de conhecimento, devemos contribuir para que sejam rejeitadas as generalizações sob pena não conseguirmos nem identificar o joio nem compartilhar adequadamente o trigo.
* artigo originalmente publicado em 17 de julho de 2005 no antigo Jornal de Limeira e reproduzido por outros portais e veículos impressos.
