
A comunicação o marketing e um recorte no público e privado
30 de mai de 2024
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Se numa primeira fase, a atividade de marketing estava muito ligada à
venda; nas novas abordagens transparecem, preocupações que vão muito
além de produtos e serviços. Nesse contexto, a comunicação dentro do
composto de marketing passa a ser etapa fundamental na transparência das
relações entre quem oferece e quem recebe produtos e serviços. Em tese, se
essas premissas básicas forem transpostas para o setor público, ainda que
preliminarmente, vislumbrar-se-ia um ganho para o cidadão muito significativo
caso sejam adequadamente gerenciadas e seus resultados devidamente
dimensionados em formas específicas de mensuração.
Uma visão que será oportuna nas interações que procuramos, pode ser
assentada no que propõe Mitsuru Yanaze(2007, p.45-46) quando subdivide o
marketing didaticamente em etapas no que ele chamou de 3 puts: Input,
througput e output e destaca:
Na teoria de sistemas e na administração, podemos traduzir input como o conjunto de
informações, recursos e outros itens de entrada, os insumos de uma empresa.
Througputs, por sua vez, são os processamentos internos, como se recebem e
aceitam, descartam, e encaminhas os inputs. Outputs são os resultados, as saídas, os
produtos, os serviços e tudo aquilo que se coloca no mercado em nome da empresa.
Nessa perspectiva, observaremos que a comunicação vai aparecer nos
outputs entre os elementos fundamentais do mix de marketing e, se
observarmos desse ponto de vista, encontramos algumas outras razões para a
mistura de etapas devido ao nível de complexidade envolvido no papel de cada
uma delas. Entretanto, se projetarmos essas etapas para um setor público
verificar-se-á que, por se tratar de adaptações de conceitos direcionados aos
objetivos mercadológicos, estas atividades podem gerar muitas distorções caso
não se consiga compreender cada uma das suas atribuições. No caso da
atividade de marketing quando atinge o status estratégico principal, carrega em
seus propósitos, as etapas comunicacionais para que os resultados sejam
percebidos.
Ao estabelecermos as conexões entre essas premissas pode se
compreender melhor essas proposituras com as devidas adaptações para o
setor público, visto que os inputs e througputs, por vezes, poderão ser
negligenciados pelos gestores. Em outras vertentes, encontramos
contribuições robustas há algum tempo sendo desenvolvidas por eminentes
pesquisadores.
Margarida Kunsch(2003,p.175) já fez uso do termo Marketing de forma
que se aproxima dessa temática denominando-a de marketing social para se
referir a este tendo como alvo a sociedade em vez de mercado, e como
interesse, não o particular mas o público.
Gaudêncio Torquato(2002, p. 139) em seu Tratado de Comunicação
também destacou aplicações importantes ao universo social e público. Essa
discussão não é propriamente nova; no entanto, enfoques críticos e práticos de
suas aplicações são pouco estabelecidos com o objetivo de propiciar o
surgimento de novas reflexões para os resultados esperados pelos sujeitos
sociais; principalmente, nesses tempos de multiplicação pelas mídias digitais
em um emaranhado de novas formas de emissão de mensagens.
Conforme já destacamos, as ponderações sobre essas atividades levam
à conclusões fundamentais, dependendo do ponto de vista e do recorte teórico
utilizado. Para nosso propósito, trataremos a comunicação como processo de
tornar comum a muitos para tornar mais viável os cruzamentos pretendidos.
Quanto à processo, faremos uso de acordo com o que propõe Berlo (1989,
p.33)
Se aceitarmos o conceito de processo, veremos os acontecimentos e as relações como
dinâmicas, em evolução, sempre em mudança, contínuos. Quando chamamos algo de
processo, queremos dizer também que não tem um começo, um fim, uma sequência
fixa de eventos. Não é coisa estática, parada. É móvel. Os ingredientes do processo
agem uns sobre os outros; cada um influencia todos os demais.
O escopo comunicacional observado como processo assim pode ser
destacado, visto que tanto os acontecimentos em um tempo histórico e de
acordo com os valores culturais podem sofrer mudanças significativas.
Jesus Martin-Barbero (2008, p.280) destaca, entre tantos aspectos, a
comunicação a partir da cultura e descreve:
Por muito tempo a verdade cultural dos países latino-americanos importou menos do
que as seguranças teóricas. E assim estivemos convencidos de que a comunicação
nos deveria apresentar uma teoria sociológica, semiótica ou informacional- porque só a
partir dela seria possível demarcar o campo de interesses e precisar a especificidades
de seus objetos. Entretanto, alguma coisa na realidade se mexeu com tanta força que
provocou uma certa confusão, com a derrubada das fronteiras que delimitavam
geograficamente o terreno e nos asseguravam psicologicamente. Apagado o desenho
do “objeto próprio” ficamos à mercê das intempéries do momento. Mas agora não mais
estamos sozinhos: pelo caminho já encontramos pessoas que, sem falar de
“comunicação”, não deixam de questioná-la, trabalhá-la, produzi-la: gente das artes e
da política, da arquitetura e da antropologia. Foi necessário perder o objeto para que
encontrássemos o caminho do movimento social na comunicação, a comunicação em
processo.
Seria muito aceitável a partir dessas afirmativas de Martin-Barbero,
acrescentar as imbricações óbvias do marketing e da comunicação. Se outras
áreas das ciências humanas se apropriaram desse objeto, é fácil imaginar o
que se poderia fazer na perspectiva social se a população pudesse ser
beneficiada de fato com ações proativas vindas dessa área não só como
receptores, mas como partícipes de suas aplicações e de seus resultados.
Antonio Peres
Mestre em processos comunicacionais
Diretor – HPM Marketing e Comunicação
