
A comunicação como estratégia para reduzir resistências às vacinas da Covid-19
30 de mai de 2024
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É um fato do conhecimento de todos que a COVID-19 está aumentando novamente e
os dados apontaram isso nesse segundo semestre de 2023. A questão é: por que esse
fenômeno está ocorrendo?
Uma pergunta que, a princípio, parece simples de responder, mas, nem tanto, se
olharmos com mais cuidado para o cenário. Muito provável, que muitas outras
questões apareçam. Seria pelo relaxamento em relação às medidas preventivas, pela
baixa adesão à vacina bivalente, ampliação das fake news ou, até, pela multiplicação
nefasta gerada pelo negacionismo.
No entanto, é prudente, observar atentamente para esse fenômeno no nosso meio
social e, o alerta, deve ser disseminado por todos os que, de alguma forma, possuem
alguma consciência social, repertório e meios para fazê-lo.
É fato de que o negacionismo sobre a doença provocou uma enorme confusão entre as
pessoas. Se para os profissionais de saúde existe uma miríade de dúvidas, imagine os
cidadãos comuns reféns de um volume de notícias impossíveis de serem processadas.
Como já afirmei anteriormente em outros artigos, vivemos uma sociedade do excesso
de comunicação e, um “lixo” gigantesco comunicacional, é produzido nas redes sociais
o que só ajuda a multiplicar as incertezas.
Por óbvio que se pouco mais de 15 % da população tomou a dose da vacina
denominada bivalente nesse ano, a proteção diminuiu proporcionalmente mesmo com
tantas evidências da sua eficácia. Não por acaso, a recente iniciativa do governo
federal, envolveu ações da Secretaria de Comunicação da Presidência da República
para enfrentar essa diminuição do interesse da população pelas campanhas de
vacinação. Se com as vacinas consagradas como a do sarampo, poliomielite e tantas
outras, a adesão está diminuindo, imagine a da COVID, com tantos assuntos polêmicos
gerados em torno de sua aplicação. Além do Ministério da Saúde, essa proposta
inédita envolveu diversos outros ministérios como o da Justiça, da Segurança Pública,
da Ciência e Tecnologia e Inovação, Controladoria Geral da União e até a Advocacia
Geral da União faz parte dessa proposta do governo para enfrentar essa questão; não
só para defender a vacinação como também para reduzir a desinformação num
programa que denominaram “Saúde Com Ciência”. Ainda que tardiamente, já é
melhor do que não se fazer nada. Se estivesse em curso naquela oportunidade quando
do início da pandemia, talvez, tivéssemos outro cenário de entendimento por parte da
população.
Numa primeira etapa, a vacina foi atacada como sendo feita às pressas e com muitas
dúvidas sobre sua eficácia. No entanto, é fato, que sem as vacinas teríamos perdido a
luta para o SARS-CoV-2. Num outro aspecto, a desinformação continua, entre tantas
fake News espalhadas, até uma bizarra de que, a vacina, seria uma forma de implantar
“chip líquido” nas pessoas e foi amplamente disseminada nas redes sociais.
Todas essas tolices podem ser rebatidas até com certa facilidade. A primeira afirmação
de que foram elaboradas às pressas as vacinas contra Covid-19, não são verdadeiras;
posto que, só foram viáveis devido ao amplo e avançado conhecimento em torno do
tema já muito consolidado entre os grupos de pesquisa pelo mundo a fora. Segundo a
pesquisadora Viviane Maimoni Gonçalves, do Instituto Butantan, a pesquisa já tem
pelo menos 20 anos em relação ao SARS. Quando a pandemia surgiu, foi possível
adaptar a tecnologia já conhecida para produzir a vacina com maior rapidez e eficácia.
Mas, esses aspectos, não foram amplamente divulgados. Apenas os especialistas
puderam acompanhar o processo sem que a sociedade conseguisse perceber de forma
clara essa evolução.
O problema central quando se trata de conhecer sobre um determinado assunto é a
falta de repertório do leigo quando entra em contato com essas premissas científicas.
Quando as notícias falsas são disseminadas ganham mais força e atingem as pessoas
fragilizadas pela dificuldade de entendimento sobre o estado da arte do tema. Para
que seja efetuada a verificação de forma isenta da sua veracidade, seria necessário
que o receptor possuísse um grau de informação mais amplo. O que só poderia ocorrer
se na sua formação educacional, já fosse dotada dessa sequência de capacitação. Mas,
como se sabe, temos deficiências muito grandes no nosso sistema educacional.
O que nos resta então fazer? Desistir, não é uma opção.
No nosso campo de atuação de estratégia comunicacional, podemos dar uma grande
contribuição para que o tema seja ampliado com maior rigor.
Iniciativas multidisciplinares como a do governo federal são muito bem-vindas, mas
precisam ser aperfeiçoadas constantemente. Já de saída, percebi que faltou o
ministério da educação no grupo de ministérios envolvidos no programa “Saúde Com
Ciência”. Penso que Comunicação e Educação deveriam caminhar juntas nessa luta
pela conscientização da população em relação a vital importância das vacinas para o
conjunto da sociedade.
Novas técnicas de pesquisas em fontes primárias para interpretar melhor o que se
passa com os receptores em seus diversos estratos seriam muito oportunas. Esses e
outros detalhes estratégicos para otimizar a comunicação sobre campanhas de
vacinação deverão ser objeto de nossas perquirições em outras incursões sobre essa
temática fundamental para que a resistência às vacinas sejam reduzidas.
Autor |Antonio Peres|